Por HERBERT DE
SOUSA
A ideia de
cidadania generalizou-se. Está na boca de todo mundo, dá títulos a movimentos e
organizações, fundamenta valores e conceitos e reflete uma profunda mudança
democrática na sociedade brasileira. Deixamos de ser empregadores e empregados,
militantes e dirigentes, eleitores e eleitos. Estamos sendo, cada vez mais, uma
sociedade de cidadãos e cidadãs.
Cidadania é o
valor básico de uma sociedade democrática, construída por todos e para todos e
fundada em cinco princípios éticos universais: igualdade, solidariedade,
participação e diversidade. Estes princípios são suficientes para orientar a
solução de todos os graves problemas sociais e políticos que nos acompanham
desde os tempos coloniais. Eles não têm, no entanto, uma ordem obrigatória: primeiro
a liberdade, depois a igualdade, ou a diversidade. A riqueza da democracia reside exatamente em postular
a simultaneidade destes princípios no tempo e no espaço. Um é sempre incompleto
sem os quatro outros. E a falta de um compromete a realização de todos. É um
tremendo desafio pensar e agir com estes cinco princípios simultaneamente. Mas
é exatamente isso que torna a democracia o mais fascinante desafio da história
da humanidade.
A história se
move quando esses princípios estão em ação, e ela estanca ou retrocede quando
um ou todos eles são negados pelo processo político. Foi assim no tempo das ditaduras
militares na América Latina. Foi assim também no chamado mundo do “socialismo
real”, que sacrificava a liberdade e a participação em nome da igualdade. Por isso,
quando olhamos a realidade complexa e às vezes confusa de nosso país, é preciso
ver além dos grandes espetáculos de massa que são como ondas _ vêm, mas também
passam. É vital atentar para o mundo como os valores básicos da cidadania vão
se imiscuindo no cotidiano das pessoas.
Uma das
mudanças fundamentais ocorridas no Brasil destes últimos 20 a 30 anos é o
envelhecimento de nossa população. Até os anos 60, o Brasil era um país
essencialmente jovem. Muitos fatores se somaram para mudar drasticamente essa
situação: melhora nos níveis de mortalidade infantil, desenvolvimento da
vacinação e da medicina preventiva em massa e, principalmente, um amplo e
diversificado processo de controle da natalidade, que vai da pílula, do DIU, do
diafragma à esterilização que hoje atinge uma quantidade imensa de mulheres em
idade fértil, particularmente das populações mais pobres. O processo político
dessa esterilização em massa ainda está por ser feito. O fato é que os números
são alarmantes e definitivos.
O resultado de
tudo isso é que a população brasileira ficou mais velha. No entanto, não houve
mudanças significativas na qualidade de vida, na distribuição da riqueza e,
principalmente, das terras, que no Brasil sempre foram privilégio histórico da
minoria. A população ficou mais velha e mais pobre também. A distância entre
ricos e pobres só fez aumentar nestas décadas e, até hoje, esse processo não
foi revertido. Aqui se cruzam a luta pela cidadania e a terceira idade. No seu
longo período de juventude, a sociedade brasileira ignorou os velhos e
desenvolveu uma série de preconceitos contra a velhice e a participação dos idosos na vida
econômica e cultural do país. Era duro ser velho nos anos 60 e 70. E não
precisava ser muito velho para ser velho, bastava passar dos 30 ou 40 anos! Nas
relações de emprego esse preconceito estendeu-se a todas as formas de relação
social e familiar.
O velho foi
sendo recolhido a sua “inferioridade” e a um mundo limitado e depressivo. A
aposentadoria precoce agravou o problema, e a ausência de equipamentos e
serviços sociais destinados a atender a terceira idade tornou a situação ainda
mais dramática.
Felizmente, a
realidade foi encontrando alguns desenvolvimentos recentes animadores:
assimilou-se a idéia de que o País deve preparar-se para ser uma sociedade com
maioria de idosos. Isto implica em algumas limitações, mas também imensas
possibilidades de atuação da terceira idade na vida pública. Estes cidadãos não
são carta fora do baralho, mas, talvez, os portadores de nossas melhores
chances de transformação social e superação do quadro de miséria.
(Revista
Sras. E Srs., ano 1, julho/97, p.41)
Por favor vc poderia falar qual parágrafo e a introdução , desenvolvimento, conclusão
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