sexta-feira, 16 de março de 2012

A MATURIDADE VALE OURO


Por HERBERT DE SOUSA

A ideia de cidadania generalizou-se. Está na boca de todo mundo, dá títulos a movimentos e organizações, fundamenta valores e conceitos e reflete uma profunda mudança democrática na sociedade brasileira. Deixamos de ser empregadores e empregados, militantes e dirigentes, eleitores e eleitos. Estamos sendo, cada vez mais, uma sociedade de cidadãos e cidadãs.

Cidadania é o valor básico de uma sociedade democrática, construída por todos e para todos e fundada em cinco princípios éticos universais: igualdade, solidariedade, participação e diversidade. Estes princípios são suficientes para orientar a solução de todos os graves problemas sociais e políticos que nos acompanham desde os tempos coloniais. Eles não têm, no entanto, uma ordem obrigatória: primeiro a liberdade, depois a igualdade, ou a diversidade. A riqueza da democracia reside exatamente em postular a simultaneidade destes princípios no tempo e no espaço. Um é sempre incompleto sem os quatro outros. E a falta de um compromete a realização de todos. É um tremendo desafio pensar e agir com estes cinco princípios simultaneamente. Mas é exatamente isso que torna a democracia o mais fascinante desafio da história da humanidade.

A história se move quando esses princípios estão em ação, e ela estanca ou retrocede quando um ou todos eles são negados pelo processo político. Foi assim no tempo das ditaduras militares na América Latina. Foi assim também no chamado mundo do “socialismo real”, que sacrificava a liberdade e a participação em nome da igualdade. Por isso, quando olhamos a realidade complexa e às vezes confusa de nosso país, é preciso ver além dos grandes espetáculos de massa que são como ondas­ _ vêm, mas também passam. É vital atentar para o mundo como os valores básicos da cidadania vão se imiscuindo no cotidiano das pessoas.

Uma das mudanças fundamentais ocorridas no Brasil destes últimos 20 a 30 anos é o envelhecimento de nossa população. Até os anos 60, o Brasil era um país essencialmente jovem. Muitos fatores se somaram para mudar drasticamente essa situação: melhora nos níveis de mortalidade infantil, desenvolvimento da vacinação e da medicina preventiva em massa e, principalmente, um amplo e diversificado processo de controle da natalidade, que vai da pílula, do DIU, do diafragma à esterilização que hoje atinge uma quantidade imensa de mulheres em idade fértil, particularmente das populações mais pobres. O processo político dessa esterilização em massa ainda está por ser feito. O fato é que os números são alarmantes e definitivos.

O resultado de tudo isso é que a população brasileira ficou mais velha. No entanto, não houve mudanças significativas na qualidade de vida, na distribuição da riqueza e, principalmente, das terras, que no Brasil sempre foram privilégio histórico da minoria. A população ficou mais velha e mais pobre também. A distância entre ricos e pobres só fez aumentar nestas décadas e, até hoje, esse processo não foi revertido. Aqui se cruzam a luta pela cidadania e a terceira idade. No seu longo período de juventude, a sociedade brasileira ignorou os velhos e desenvolveu uma série de preconceitos contra a  velhice e a participação dos idosos na vida econômica e cultural do país. Era duro ser velho nos anos 60 e 70. E não precisava ser muito velho para ser velho, bastava passar dos 30 ou 40 anos! Nas relações de emprego esse preconceito estendeu-se a todas as formas de relação social e familiar.

O velho foi sendo recolhido a sua “inferioridade” e a um mundo limitado e depressivo. A aposentadoria precoce agravou o problema, e a ausência de equipamentos e serviços sociais destinados a atender a terceira idade tornou a situação ainda mais dramática.

Felizmente, a realidade foi encontrando alguns desenvolvimentos recentes animadores: assimilou-se a idéia de que o País deve preparar-se para ser uma sociedade com maioria de idosos. Isto implica em algumas limitações, mas também imensas possibilidades de atuação da terceira idade na vida pública. Estes cidadãos não são carta fora do baralho, mas, talvez, os portadores de nossas melhores chances de transformação social e superação do quadro de miséria.
(Revista Sras. E Srs., ano 1, julho/97, p.41)

Um comentário:

  1. Por favor vc poderia falar qual parágrafo e a introdução , desenvolvimento, conclusão

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